terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Resenha: A Flauta Condor

Segundo volume da série Os sóis da América, A Flauta Condor dá continuidade às aventuras do menino Pelume em peregrinação pelas terras de uma América mítica em busca da história para chamar o Sol, que pode salvar seu povo do que ele acredita ser a extinção certa.
No primeiro volume, O Nalladigua (também publicado em 2013), Pelume abandona sua terra natal, uma ilha no oceano antártico e, literalmente, voando nas asas do vento – que na sua tradição do povo Do Fogo é um pássaro chamado Furufuhué –, chega às terras meridionais do continente, onde conhece a menina Misqui que o acompanha em sua caminhada para o norte. Depois de enfrentar muitos perigos e tristezas, mas também vitórias, os jovens chegam às cataratas do rio Iguaçu e, de lá, embarcam novamente nas costas de Furufuhué em direção à coluna vertebral da América, a Espinha Branca.
A Flauta Condor inicia com Pelume, Misqui e Nimbó, garoto guarani que se uniu aos peregrinos, voando sobre o coração do continente a bordo de uma canoa equilibrada nas costas do Urubu-Rei, uma das muitas formas que Furufuhué assume entre os povos americanos. Mas, sendo vento, Furufuhué é sensível aos processos climáticos e, quando ele se transforma numa violenta tempestade, tem que deixar os garotos no chão para mantê-los a salvo, e a viagem é interrompida antes que a gigantesca cordilheira seja alcançada: os jovens terão de concluir a jornada a pé.
Caminhando por uma terra árida, exaustos e famintos, os jovens encontram um casebre calcinado pelo sol inclemente da região. Ali encontrar mais dois adolescentes, Taki e Sisa, filhos de nobres incas que até ali foram levados por um servo depois que sua casa foi atacada por revoltosos que mataram seus pais.
Auxiliados pelos espíritos da natureza Pombero e Coquena, os cinco jovens seguem viagem em busca das raízes da cordilheira. Ao atravessarem uma floresta encantada, o galho da Nalladigua – que Pelume carrega desde o início de sua jornada e na qual amarra suas lembranças – começa a revelar seus poderes, que ainda não são entendidos pelo garoto.
Quando, enfim, chegam à cidade inca de Potosi, encontram Uturunku, um antigo amigo da família real, que diz também estar sendo perseguido pelos revoltosos. Ele e seu filho Sonkoy passam a proteger os jovens herdeiros, que precisam escapar dos rebeldes e chegar à Cuzco, onde poderão ser protegidos pelas forças leias do império. Com os soldados em seus calcanhares, Uturunku guia os jovens pelo labirinto de túneis escuros das minas de prata de Potosi. Um dos perseguidores os alcança e, na mortal luta que se segue, Pelume consegue tirar dele um pequeno instrumento, a Flauta Condor, que tem o poder de transportar as pessoas instantaneamente para outros locais. Uma das notas pode levar à Cuzco, mas até que encontrem a nota certa, perigos ainda maiores esperam por Pelume, Misqui, Nimbó, Taki, Sisa, Uturunku e Sonkoy, incluindo a traição de quem menos se espera e o destino trágico para de um dos caminheiros.
Geralmente, as histórias de continuação costumam perder um pouco do fôlego nos volumes intermediários, uma vez que se tratam de "histórias de miolo", que ligam o início, em que os personagens e as situações se apresentam, e a conclusão, no volume final. Mas a experiente escritora Simone Saueressig, autora de livros como A máquina fantabulástica (Scipone) e A estrela de Iemanjá (Cortez), não permitiu que isso acontecesse em A Flauta Condor. A história é movimentada e ainda mais dramática que a do volume inicial, com muitos personagens novos interessantes que serão muito bem-vindos se retornarem à aventura mais adiante. Outras lendas sobre a origem do Sol são relatadas pela autora que vai, assim, construindo um atlas mitológico da América, com histórias colhidas em diversas culturas nativas.
Na resenha ao primeiro volume, citei o fato que numa América pré-colombiana não poderia existir a imagem do cavalo, usada para representar anhangá, uma vez que o animal só veio a ser conhecido por aqui com a chegada das caravelas europeias. Mas a autora contestou essa opinião dizendo que a América de sua história não é a nossa, mas uma outra, de um universo alternativo em que os animais mitológicos realmente existem e a história humana se passou de forma diferente. Portanto, também podem aparecer animais de outras partes do mundo. E, novamente em A Flauta Condor, a autora usa esse recurso ao descrever o guardião do Eldorado, uma enorme espécie de dinossauro que sobrevive nas regiões perdidas da floresta amazônica e é chamado pelos personagens de lagarto-tigre. Como a licença poética de tomar um dinossauro – que não existe em parte alguma – talvez seja ainda mais ousada do que citar um tigre – animal nativo da Ásia que não existe naturalmente na América real – cito aqui o fato só para antecipar ao leitor que na América de Simone Saueressig tudo pode acontecer, inclusive a presença das plantas antropófagas que estrelam o momento mais dramático do volume.
A ilustradora Fabiana Girotto Boff, que fez a capa e ilustrações internas do primeiro volume, retorna em A Flauta Condor, com desenhos mais detalhados e adequados à narrativa. A produção gráfica e editorial é da própria autora, num volume de 152 páginas com capa em cartão plastificado, com orelhas. Um marcador de páginas personalizado acompanha cada exemplar, com um útil glossário de termos incomuns citados na história, o que facilita bastante a busca uma vez que o marcador está sempre à mão. Na página final do volume está anunciado o título de Os sóis da América, Volume 3: O coração de jade, que deve ser lançado em 2014.
Mais informações sobre a saga de Pelume podem ser encontradas no blogue da série, aqui.

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