terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Marien Calixte (1935-2013)

As comemorações natalinas ficarão para sempre marcadas com um fato triste para os fãs da ficção científica brasileira. No último dia 25 de dezembro, aos 78 anos, deixou-nos o escritor e jornalista Marien Calixte, conhecido como o inovador da imprensa capixaba.
Filho de uma professora primária e de um jardineiro francês, Calixte nasceu no dia 20 de outubro de 1935, no bairro do Méier, no Rio de Janeiro. Aos dez anos de idade, mudou-se para o estado do Espírito Santo, onde passou toda a vida.
Autodidata, iniciou-se profissionalmente nos anos 1950, como radialista na Rádio Espírito Santo, apresentando o programa Cinelândia Capixaba, sobre cinema e trilhas sonoras, mas seu programa mais conhecido foi O Som do Jazz, que comandou por mais de cinquenta anos.
Em 1955, um contrato no periódico A Tribuna inaugurou sua carreira no jornalismo. Atuou também nos jornais O Diário e A Gazeta, onde chegou a ser diretor de Redação, e foi correspondente do Jornal do Brasil e das revistas Senhor, O Cruzeiro e Visão. Também desenvolveu trabalhos como publicitário e tinha interesse especial pelas artes, que praticou intensamente. Foi poeta, diretor de teatro, músico, pintor e escritor. Publicou dezenas de livros, entre biografias, poemas e prosa. Nos anos 1970, ao lados dos escritores Milson Henriques e Celso Mathias, criou uma coleção de livros infantis para a editora Sem Fronteiras. No final dos anos 1960, ocupou a cadeira de Secretário de Turismo de Vitória, durante a gestão de Setembrino Pelissari.
Interessado por ficção científica, venceu um concurso literário com o conto "O visitante", depois publicado a revista Ficção e na sua primeira coletânea Alguma coisa no céu – originalmente publicada em 1985 pela editora Riomarket. A respeito dela, disse o escritor Renato José Costa Pacheco no prefácio à sua primeira edição: "vejo que seus textos têm duas notas comuns: a presença dos chamados OVNI e, pela primeira vez em nossa literatura, a paisagem capixaba – nossas praias, o interior, Meaípe, Manguinhos, Rio Novo do Sul e Cachoiero do Itapemirim. Todos de uma leitura agradável de enredo simples, prontos a conquistar a afeição da maioria dos leitores, que buscam num livro suas horas de prazer, mais que um profundo diálogo filosófico-telúrico." Dez anos depois, a coletânea recebeu uma segunda edição pela editora GRD. Apesar de ser o único livro de Calixte inequivocamente ligado a ficção científica, o autor escreveu pelo menos mais um livro de textos fantásticos: Contos desiguais, publicado em 2003.
Teve alguns de seus contos traduzidos para o alemão e o italiano, e recebeu a atenção também no seu país, aparecendo nas antologias Estranhos contatos (1998) e Melhores contos brasileiros de ficção científica (2010).
Vítima do Mal de Parkinson, Calixte faleceu devido a um súbito agravamento da doença. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Jardim da Paz, no município de Serra, no Espírito Santo.
Mais sobre a vida e a obra do autor no blogue Memória Marien Calixte.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Black Rocket 6

O fanzine eletrônico de ficção fantástica Black Rocket, que há poucos dias havia lançado sua edição número 5, disponibilizou para download gratuito, exatamente no dia 25 de dezembro, mais uma nova edição: o especial Feliz Natal Zumbi.
São 94 páginas com dez contos de horror assinado por Aguinaldo Peres, Carlos Relva, Joshua Falken, Leonardo Carrion, Ubiratan Peleteiro, Douglas Eralldo, Karen Alvares, Rita Maria Felix da Silva, Zé Wellington e do editor Charles Dias, além de artigos de Sabrina Picolli da Silva e Bia Nunes de Sousa. A capa é de Victor Flk Negreiro.
Esta edição, assim como todas as anteriores podem ser baixados em formato pdf no saite da publicação, aqui.

Bestsellers grátis

A maior parte das pessoas que conheço ainda preferem ler os livros no seu formato habitual, impressos em papel mas, conforme a tecnologia fica mais e mais acessível, o formato digital ganha apreciadores. Ainda não dá para vaticinar que o formato virtual irá predominar no futuro mas, por via das dúvidas, todo mundo quer dropar a onda antes que ela quebre. Até a poderosa editora Companhia das Letras rendeu-se ao apelo do ebook e está promovendo o formato. Mesmo que o objetivo imediato seja alavancar as vendas dos livros reais, ainda assim é bastante significativo.
Há alguns dias, a editora tornou disponível, para download gratuito, dois ebooks de autores bestseller de seu prestigioso catálogo, que devem atrair a atenção dos leitores.
Pelo selo Seguinte recebemos Mundo de tinta, da escritora alemã Cornelia Funke, coletânea com três contos de fantasia inéditos que mostram o que aconteceu com alguns dos personagens vistos nessa trilogia de grande sucesso.
E pela Companha das Letras veio Dia de folga: Um conto de Natal, do irlandês John Boyne, autor do premiado O menino do pijama listrado. A história aborda um dos cenários mais esquizofrênios do século XX, simultaneamente violento e romântico: a véspera de Natal nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Os volumes estão disponíveis apenas em formatos para dispositivos móveis, epub e mobi, mas com o programa certo também dá para ler no computador.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Resenha: O livro das lendas

Há um grande interesse da pedagogia moderna pela pesquisa de lendas vindas de todas as culturas. Não é incomum que me cheguem às mãos livrinhos, publicados pelas mais variadas editoras para serem distribuídos nas escolas públicas, com histórias da tradição chinesa, japonesa, indiana, árabe, africana etc. Mas ainda não tinha encontrado nenhum sobre as lendas judaicas. Talvez porque pareça, aos olhos ocidentais, que todas as histórias judaicas já estão narradas na Bíblia Sagrada. Mas é claro que não é assim. Ainda que a Bíblia contenha, de fato, grande parte da tradição oral judaica e tenha sido, por muito tempo, o livro maior da sua estante, há muito mais que a ela não registra. É não estou falando dos evangelhos apócrifos que fazem tanto sucesso por aí, uma vez que os evangelhos não fazem parte da tradição judaica em questão, que se limita, de fato, aos livros do Antigo Testamento, mas sim das histórias de sabedoria popular.
Shoham Smit é uma escritora de Jerusalém, especialista no campo e conta, na apresentação de O livro das lendas – publicado há poucos meses pela Companhia das Letrinhas com tradução de Paulo Geiger –, que também sentia falta de um compêndio que apresentasse às novas gerações as lendas e costumes judaicos numa linguagem acessível, sem perder a beleza literária dos textos tradicionais.
Inspirada pelo trabalho feito no início do século vinte pelos pesquisadores Bialik e Ravnitzki, da Ucrânia, que então publicaram um compêndio de lendas hebraicas para os jovens, conhecido como Sefer haagadá, ou O livro da lenda, ela decidiu seguir o mesmo caminho. Selecionou histórias diretamente do Talmude e as recontou, auxiliada pelos belos e coloridos desenhos da ilustradora romena Vali Mintzi. O resultado é um atlas cultural com um panorama belíssimo da tradição judaica a través de suas lendas e fábulas milenares.
O livro, que tem 128 paginas, está dividido em três partes principais. Em "Histórias da Bíblia", são contadas lendas de personagens e fatos bíblicos, tais como a Criação, Caim e Abel, Noé e a arca, o dilúvio, a torre de Babel, Abraão, Moisés e Salomão. Não são as histórias que estão na Biblia, mas lendas que falam sobre os interstícios delas como, por exemplo, o que comiam os animais na arca de Noé, como surgiram vários provérbios famosos, por que Moisés era gago, o confronto de sabedoria entre Salomão e a Rainha de Sabá, e muitas outras, algumas delas realmente emocionantes.
Em "Lendas de sábios", a autora vai buscar as histórias de personagens do período do segundo templo, como Choni, Hilel, Chanina ben Dosa, Iehoshua ben Chanina e Ravi Akiva. São narrativas divertidas e curiosas, algumas nitidamente fantasiosas mas, ainda assim, ricas de significados.
A parte final, "Fábulas", conta histórias de sabedoria com homens e animais, algumas delas antecessoras de fábulas europeias mais famosas. Tudo é ainda comentado em notas laterais tão interessantes quanto os textos a qual se referem.
A edição original de O livro das lendas é de 2011, que garante o frescor estilístico de um texto leve e confortável para leitores de todas as idades. Altamente recomendado.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

É Natal!


Somnium 107


O tradicional fanzine do Clube de Leitores de Ficção Científica tem um novo editor: Ricardo Guilherme dos Santos assume o posto que era de Daniel Borba em um volume bem cuidado, com 101 páginas e diagramação de Marcelo Biguetti.
O fanzine publica contos de A. Z. Cordenonsi, B. B. Jenitez, Alexandre Santos Lobão, Adrianna Alberti e Ronald Rahal, além de resenhas dos romances O alienado, de Cirilo Lemos, Metanfetaedro, de Alliah, Reis de todos os mundos possíveis, de Octávio Aragão e a antologia Paradigmas definitivos, respectivamente analisados por Sid Castro, Washington Silva, Ricardo França e João Beraldo.
Mas o destaque vai mesmo para a entrevista com o editor Richard Diegues, que respondeu a Clinton Davisson sobre os fatos que levaram a ele e ao seu sócio, Gianpaolo Celli, anunciarem, há poucas semanas, o encerramento das atividades da respeitada Editora Tarja, que é homenageada pela edição. A ilustração da capa é de Jano Vesina Janov.
Somnium 107 está disponível gratuitamente aqui, nos formatos pdf, mobi e epub.

Carqueija books

Prosseguindo a estratégia de tornar toda a sua produção não-inédita disponível gratuitamente na internet, o escritor carioca Miguel Carqueija disponibilizou mais dois títulos através do saite Recanto das Letras.
Em busca do cachorro prodígio é uma novela de fantasia publicada em 2005 na antologia Banco de Talentos da Febraban, com a história de um detetive particular que é contratado para encontrar um cão muito especial. O prefácio é assinado pela escritora Maria Cândida Vieira.
A face oculta da galáxia é um romance de ficção científica que já foi publicado em versão digital em 2006, pela Casa da Cultura, mas se encontrava indisponível. Conta a história de uma mercenária aposentada que volta a ativa para recuperar um misterioso objeto do qual depende a estabilidade do universo. O prefácio é do escritor Jorge Luiz Calife.
Ambos os trabalhos estão disponibilizados em forma de arquivo de texto e não exigem nenhum programa especial para serem abertos.

Megalon 37

Originalmente publicado em setembro 1995, está novamente disponível, agora em edição virtual gratuita, o número 37 do histórico fanzine de ficção científica e horror Megalon.
Este número assinala visivelmente o fim do modelo de fandom organizado em torno do Clube dos Leitores de Ficção Científica, que vinha se retirando da cena ao mesmo tempo em que as atividades dos fãs migravam para a internet. Era o início da revolução digital, que iria mudar dramaticamente o panorama do fandom brasileiro, principalmente a partir da virada do século mas, naqueles dias, essa perspectiva ainda não era percebida claramente. Por isso, a imobilidade do clube é lamentada no editorial desta edição, uma vez que as atividades virtuais eram tímidas e praticamente invisíveis mesmo entre os fãs. O Megalon, contudo, estava em seu auge editorial, e assim prosseguiria pelos dez anos seguintes.
Esta edição, de 42 páginas, traz contos de Carlos Orsi Martinhos e Miguel Carqueija, quadrinhos de Angelo Júnior, cartuns de Marcelo Pirani Vieira, artigos de Lúcio Manfredi, Roberto de Sousa Causo, Alysson Fábio Ferrari, além de notícias do ambiente da fc&f, com destaque para o obituário do multipremiado escritor Roger Zelazny, falecido no dia 14 de junho daquele ano. A edição ainda publica uma entrevista com o fanzineiro Renato Rosatti, um dos fundadores do próprio Megalon, e um artigo analítico do editor ao Prêmio Nova 1994 e à primeira e única edição do Prêmio Gumercindo Rocha Dórea, então divulgados há poucas semanas.
Acompanha a edição, um arquivo bônus com interessantes documentos da época.

Laila

A coleção de ebooks Fantastiverso disponibilizou Laila e os caçadores de demônios, de Ademir Pascale, segunda parte da série iniciada com Antonio Spadoni e os caçadores de demônios.
Diz o texto de divulgação: "O que você faria se descobrisse que 10% da população sobre a Terra não é de humanos? E que, dos heróis nada convencionais que nos protegem, alguns ainda detêm dons especiais? Marcas foram deixadas na história: o pintor e poeta William Blake tinha estranhas visões de anjos e demônios, muitas das quais retratadas em suas ilustrações. Jim Morrison, vocalista do The Doors, enxergava mais do que a maioria das pessoas, e isso ficou registrado em suas letras e até no próprio nome da banda. Robert Johnson teve uma ajudinha sobrenatural para se tornar um dos maiores guitarristas de todos os tempos."
Com capa e diagramação de Marcello Biguetti, o ebook pode ser baixado gratuitamente aqui.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Hiperconexões

Uma vez, há muito tempo, a escritora Jane Terezinha Mondello, respondendo a uma afirmação minha de que não sabia escrever poesias, disse-me em uma correspondência uma coisa que nunca mais esqueci: que a ficção científica é fundamentalmente poesia em prosa. E ela estava com toda a razão.
Talvez seja por isso que existe tão pouca poesia de ficção científica. Mesmo no ambiente internacional esse modelo literário é difícil de ser encontrado.
No Brasil tivemos alguns casos expressivos, como o de André Carneiro, nosso escritor de fc mais bem sucedido no exterior, que também desenvolveu uma valorizada obra poética, do escritor Braulio Tavares, que tem um vínculo especial com o cordelismo e já produziu pelo menos um livro de fantasia em versos - Arthur e Isadora ou A pedra do meio-dia -, bem como o escritor José Ronaldo Viega Lopes, do qual já comentei aqui algumas publicações.
Então é com muito entusiasmo que apresento a antologia poética Hiperconexões: Realidade expandida, organizada por Luiz Bras para a Editora Terracota, definida como a primeira antologia de poemas sobre o pós-humano da literatura brasileira.
Diz Reynaldo Damazio na orelha do livro: "Em Hiperconexões: realidade expandida, trinta e um poetas de estilos variados toparam a provocação de pensar e escrever sobre o devir, tateando o provisório e flertando com o precário, numa aposta quase insana, ou insólita, de que a humanidade renovada se insinua entre os escombros da civilização formatada pelos códigos do instinto predatório, que ao mesmo tempo soube, com alguma crítica e autocrítica, tocar a beleza."
São estes os poetas convidados: Ademir Assunção, Amarildo Anzolin, Ana Paluso, Andréa Catrópa, Braulio tavares, Claudio Brites, Daniel Lopes, Edson Cruz, Elisa Andrade Buzzo, Fabrício Marques, Fausto Fawcett, Gerusa Leal, Ivan Hagen, Jane Sprenger Bodnar, Luci Collin, Marcelo Finholdt, Márcia Barbieri, Marco A. de Araújo Bueno, Mariana Teixeira, Marília Kubota, Marize Castro, Ninil Gonçalves, Patricia Chmielewski, Renato Rezende, Rodrigo Garcia Lopes, Ronaldo Bressane, Sérgio Alcides, Thiago Sá, Valério Oliveira e Victor Del Franco, além do próprio organizador, que escreveu uma espécie de prefácio que é também um poema. Há de tudo um pouco, de poemas tradicionais a pós-modernos, de concretismo a prosa, um bestiário amplo do que a ficção científica pode gerar quando flerta com outros formatos e estilos.
O livro já está disponível, mas a noite de autógrafos está marcada para 2 de fevereiro de 2014, na Casa das Rosas, em São Paulo, a partir das 18h30.
Mais informações sobre o projeto podem ser encontradas no saite da antologia, que pretende formar uma linha de diálogo entre os leitores e os poetas, com notícias, textos, frases, vídeos, indicações de leituras, entrevistas e o que mais couber nesse bequer literário.

Black Rocket 5

Exatamente um ano depois de publicar o número 4, está disponível para download gratuito a quinta edição do fanzine eletrônico Black Rocket, editado em formato pdf por Charles Dias.
São 132 páginas com dez contos e noveletas de ficção científica no tema "heroínas", por Aguinaldo Peres, Carlos Relva, Joshua Falken, Leonardo Carrion, Ubiratan Peleteiro, Ana Lúcia Merege, Lady Sybylla, Tatiana Ruiz, Marcelo Jacinto Ribeiro e do próprio editor, além de um pequeno artigo com dicas de leitura de Bia Nunes de Sousa.
Para baixar uma cópia e só visitar o saite da revista, aqui.

O homem fragmentado

O publicitário paulista Tibor Moricz tem sido uma das vozes mais potentes da terceira onda da ficção científica brasileira desde suas primeiras incursões, logo depois de publicar, em 2007, o romance Síndrome de cérbero (editora JR), que rendeu boa audiência para a história de um homem que busca corrigir suas erros e amarguras através de viagens no tempo. No ano seguinte, publicou Fome (Tarja), coletânea de contos num mesmo universo pós-apocalíptico que retratam o destino terrível dos últimos sobreviventes sobre o mundo. Em 2011, o autor voltaria a retratar um homem em busca de redenção no romance O peregrino (Draco), cuja resenha pode ser lida aqui.
O autor retorna agora ao tema da jornada de um homem destruído pela culpa no romance O homem fragmentado. A história conta a experiência de um suicida que repete sua vida sucessivamente, não como ela foi, mas como poderia ter sido, uma vida diferente e assombrada. Diz o texto de divulgação: "O homem fragmentado fala de alguém que vê seu mundo ser desconstruído e assiste, perplexo, a ruína de todas as suas verdades. Ao ponto irreversível da loucura ou da liberdade numa última e epifânica revelação".
O homem fragmentado tem 212 páginas e é uma publicação da Editora Terracota.

Force Attax

Está chegando às bancas de revistas a coleção Star Wars Force Attax. Trata-se de uma série de 194 cards colecionáveis, fabricada pela Topps e distribuída em pacotinhos com 4 cards, cada um com a imagem de um personagem ou veículo da famosa saga cinematográfica criada por George Lucas. São duas séries distintas, uma com imagens da trilogia do cinema, e outra da série de tv Clone Wars.
As cartas têm dados de força de ataque e defesa para permitir duelos com elas, num game ao estilo trunfo, para dois jogadores.
Trata-se de mais uma tentativa para popularizar os cards no País, que sempre estiveram atrás no interesse do público pelos álbuns de figurinhas. O uso da popular franquia Star Wars, portanto, não é ocasional.
A coleção dispõe de um livro ilustrado e também pode ser encontrada em cartelas com 19 cards.

QI 124

Está chegando aos assinantes a última edição de 2013 do fanzine Quadrinhos Independentes - QI, fanzine editado por Edgard Guimarães.
A edição vem com 22 páginas em que a principal atração são os artigos "Mistérios do colecionismo", "Mantendo contato", a sempre concorrida seção de cartas e a lista de publicações alternativas do bimestre. Nos quadrinhos, trabalhos de Canini, J. Carlos, Luiz Faria e do próprio editor. A edição ainda traz mais duas lâminas colecionáveis da série Cotidano alterado, e o segundo fascículo da novela gráfica Buster from Texas Rangers: "Desperadoes", de Gus Peterson e José Pires, com desenhos de cair o queixo.
O QI é distribuído unicamente por assinaturas. Mais informações com o editor pelo email edgard@ita.br.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

2º Prêmio Literário Codex de Ouro

Durante um coquetel realizado no último dia 7 de dezembro, no Rio de Janeiro, aconteceu a divulgação dos vencedores e a entrega dos troféus da segunda edição do Prêmio Literário Codex de Ouro, criado em 2011 pelo escritor e editor Roberto Laaf.
Promovido pelo site Ponto do Autor, o prêmio tem ampla abrangência em relação à literatura praticada no fandom brasileiro, com categorias específicas para chic-lit, policial, resenhistas, blogues, trabalho editorial e até design. Tantos as indicações como a votação final são feitas diretamente pelos leitores através da internet. Devido a não realização do prêmio em 2012, a abrangência desta edição cobriu os anos de 2012 e 2013.
Como sempre acontece em promoções que ganham visibilidade, muita gente está, neste momento, seriamente dedicada a desacreditar o prêmio, por considerá-lo não representativo e marcado pela recorrência, mas essa choradeira é contumaz no fandom, principalmente vindas de setores não contemplados nas escolhas populares que, de qualquer modo, sempre são parciais. Por mais que se tente, nunca será possível agradar a todos, ainda mais num ambiente segmentado e dominado por pequenos feudos, como é o fandom brasileiro.
Os organizadores do prêmio anunciam novidades para 2014, com a criação de novas categorias e até de um prêmio especial em dinheiro.

Os vencedores
Melhor Romance: A bandeja: Qual pecado te seduz, Lycia Barros (Atitude).
Indicados: Ainda não te disse nada, Maurício Gomyde (Porto 71); Estação jugular, Allan Pitz (Dracaena); Para sempre Ana, Sérgio Carmach (Caravansarai); Senhor do amanhã, Vanessa Bosso (Dracaena),Tocada, Juliana Giabobelli (Lexia).
Melhor Chick-Lit: Ser Clara, Janaina Rico (Underworld).
Indicados: Antes tarde que mais tarde, Liana Cupini (Modo); Baby, você me ama, Thaty Furtado (Edição do autor); As bem resolvidas, Luis Eduardo Matta (Vermelho Marinho); As confissões de Laura Lucy, Fernanda Saads (Novo Século); Dividindo Mel, Iris Figueiredo (Draco).
Melhor Juvenil: Minha vida fora de série, Paula Pimenta (Gutenberg).
Indicados: A caçadora: Sorriso de vampiro, Vivianne Fair (Lexia); De volta à caixa de desejos, Ana Cristina Melo (Vermelho Marinho); Fala sério, filha!, Thalita Rebouças (Rocco); Garota apaixonada em apuros, Carolina Estrella, (Matrix); Tortura cor-de-rosa: As meninas também sabem ser cruéis, Lycia Barros (Atitude).
Melhor Sobrenatural/Terror: O caso Laura, André Vianco (Rocco).
Indicados: Agridoce, Simone O. Marques (Literata); Anjo negro, Mallerey Cálgara (Novo Século); A arma escarlate, Renata Ventura (Novo Século); As bruxas de Oxford, Larissa Siriani (Literata), Marcada a fogo, Josy Tortaro (Literata).
Melhor Ficção Científica/Fantasia: Dragões de éter: Círculos de chuva, Raphael Draccon (Leya).
Indicados: Bios, Luiza Salazar (Underworld); Contos de Meigan: A fúria dos cártagos, Roberta Splinder & Oriana Comesanha (Dracaena); As crônicas da Terra do Lago, Iracy Araújo (Novo Século); Draco saga: O despertar, Fábio Guolo (Selo Brasileiro); Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida, Eduardo Spohr (Verus).
Melhor Suspense/Policial: Jardim de escuridão, Bianca Carvalho (Era Eclipse).
Indicados: Irresistivelmente fatal, Márcio Scheibler (Zum); A morte do cozinheiro, Allan Pitz (Above); Orgasmos fatais, Fernanda Borges (Biblioteca 24 Horas); Selva Brasil, Roberto de Sousa Causo (Draco); Sussurros de uma garota apaixonada, Mandy Porto (Underworld).
Melhor Antologia de Contos/Crônicas: A batalha dos deuses, Juliano Sasseron, org. (Novo Século).
Indicados: Asgard: A saga dos Nove Reinos, Sóira Celestino, org. (Jambô); Extraneus III: Em nome de Deus, M. D. Amado, org. (Estronho); Jogos criminais, Sérgio Pereira Couto, org. (Andross); Moedas para o barqueiro 2, Cristiana Gimenes, org. (Andross); O segredo da crisálida, Andréa Catrópa, org. (Andross).
Melhor Design de Capa: A arte da invisibilidade, Allan Pitz (Dracaena).
Indicados: Até eu te encontrar, Graciela Mayrink (Vermelho Marinho); Bios, Luiz Salazar (Underground); A fada, Carolina Munhóz (Novo Século); Kôra e a masmorra de Átro, Ana Flávia Abreu (Llyr Editorial); Ser Clara, Janaina Rico (Underground).
Melhor Booktrailer: Palladinum: Pesadelo perpétuo, Marcelo Amaral (Llyr Editorial).
Indicados: Contos de Meigan: A fúria dos cártagos, Roberta Spindler & Oriana Comesanha (Dracaena); Entre a mente e o coração, Lycia Barros (Novo Século); Lembranças de um diário, Michelem Fernandes (Baobá); Paz guerreira, Talal Husseini (TH Prime); O senhor das sombras, Leandro Reis (Idea).
Melhor Publicidade Online: O preço de uma lição, Federico Devito & Rogério Mendonça (Novo Conceito).
Indicados: Filho teu não foge à luta, Fellipe Awi (Intrínseca); Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida, Eduardo Spohr (Verus); Ser Clara, Janaina Rico (Underground).
Melhor Resenhista: Tatiana Jiménez (Leitora Viciada).
Indicados: Renata Chaves (Bla Bla Books); Julianna Steffens (Lost in Chick-Lit); Jessica Asato (Di Moça); Julia G. (Conjunto da Obra); Alexandra Pitol (La Sorciére); Hérida Ruyz (Lendo nas Entrelinhas); Cláudio Schamis (Viciado em Livros).
Melhor Blog Literário: Uma Conversa sobre Livros.
Indicados: Viaje na Literatura; Lendo nas Entrelinhas; Leitora Viciada; Bla Bla Books; Garota It.
Melhor Revista Literária: Fantástica.
Indicados: Coolture News, Heloísa Buarque de Hollanda, Releitura, Sobrecapa Literal, Blecaute.
Melhor Editora: Novo Século.
Indicados: Danprewan; Literata; Underworld.
Melhor Autor: André Vianco.
Indicados: Augusto Cury; Eduardo Spohr; Felipe Pena; Laurentino Gomes; Raphael Draccon.
Melhor Autora: Tammy Luciano
Indicados: Graciela Mayrink; Janaina Rico; Patrícia Barboza; Carola Saavedra; Leila Rego.
Prêmio Especial Inspiratio Codex: Felipe Pena.
Prêmio Especial Honoris Codex: Lygia Bojunga.
Prêmio Especial Vox Populi – Autor: Eduardo Spohr.
Prêmio Especial Vox Populi – Título: A arma escarlate, Renata Ventura (Novo Século).

Parabéns aos ganhadores e muita força para os organizadores do prêmio.

Juvenatrix 154

Está circulando a edição de dezembro do fanzine de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti. Com capa de Rafael Tavares, Juvenatrix 154 traz, em quinze páginas, um conto de Michael Kiss, divulgação e notícias da cena underground e rock extremo, além de muitos textos sobre cinema recente: O jogo do exterminador, Carrie: A estranha, Chernobyl: Sinta a radiação, Elysium, Gravidade, O hobbit: A desolação de Smaug, Infectados, R.I.P.D. Agentes do além, Riddick 3, Thor: O mundo sombrio, Viagem à lua de Júpiter, e os clássicos O monstro de duas cabeças (1972), A queda da casa de Usher (1928),
Para obter um cópia, em formato digital, é preciso solicitar ao editor pelos emails renatorosatti@yahoo.com.br ou renatorosatti@terra.com.br.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Trasgo

Acaba de estrear mais uma revista literária eletrônica dedicada a publicação de ficção fantástica em língua portuguesa. Trata-se de Trasgo, publicação trimestral editada independentemente por Rodrigo van Kampen.
Diz o editorial: "Se hoje é possível criar uma revista sem os altos custos de impressão e logística, por outro lado é necessário um material de qualidade para se diferenciar no mar de sites e comunidades de contistas.
Esse é o objetivo desta revista. Em vez de concorrer com os fóruns, é um complemento, um espaço com curadoria forte para que os autores brasileiros e portugueses possam atingir um público além. E se a produção nacional de fantasia vem ganhando terreno nestes últimos anos, é hora de mostrar que também a ficção científica tem ótimos autores em língua portuguesa." Objetivos são bastante ousados, portanto.
A edição disponível agora é um piloto, com 81 páginas com cinco contos dos brasileiros Hális Alves, Karen Alvares, Marcelo Porto, Cláudia Dugim e Melissa de Sá, cada um deles entrevistados na edição. A capa traz um trabalho do ilustrador paulista Filipe Pagliuso, que também é entrevistado e tem uma pequena galeria de sua arte exibida nas páginas de publicação.
A revista Trasgo está disponível nos formatos mobi e epub, e pode ser baixada aqui.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Na tela: O jogo do exterminador

No último dia 11, estive entre os convidados de uma cabine especial do movimentado longa metragem O jogo do exterminador (Ender's game), realizada na sala de exibição da Paris Filmes, no Pacaembu, em São Paulo, com o apoio da Devir Livraria, editora que atualmente publica a tradução do romance que deu origem ao filme.
O jogo do exterminador, que estreia no Brasil no dia 20 de dezembro com direção de Gavin Hood, conta a história de um grupo de adolescentes liderado por Andrew "Ender" Wiggin – interpretado por Asa Butterfield –, que é treinado pela forças armadas da Terra para enfrentar uma raça de alienígenas que, 40 anos antes, tentou invadir o planeta e foi repelida depois de uma batalha que quase custou a extinção da humanidade. Preocupada com uma eventual nova onda de ataque, a Terra construiu uma pequena frota de astronaves armadas, já a caminho do planeta natal dos alienígenas – os formics – para retaliar e impedir que, no futuro, a Terra seja novamente vitimada. Mas falta à frota um estrategista, alguém que tenha a habilidade de entender o modo de ser dos alienígenas, antecipar suas reações e garantir a vitória da frota terrestre. Ender tem um casal de irmãos mais velhos que também passaram pelos treinamento, mas foram rejeitados. Contudo, o desempenho de Ender agrada ao coronel Graff – interpretado por Harrison Ford – que, pressionado pelo tempo, decide acelerar o seu treinamento, submetendo-o a pressões cada vez maiores, de forma a tê-lo pronto no momento crucial. Ender é um garoto sensível que aprendeu a ser cruel quando necessário, e a relação conflituosa que tem com os irmãos influencia determinantemente sua forma de agir para com colegas, adversários e, principalmente, alienígenas.
A história foi originalmente imaginada pelo escritor norte-americano Orson Scott Card, para um conto, depois expandido em romance. Ambos ganharam os mais importantes prêmios da fc internacional, sendo uma das maiores unanimidades do gênero entre leitores e crítica. No Brasil, o conto original foi publicado na revista Isaac Asimov Magazine em 1991, ano em que também foi publicado o romance pela Editora Aleph.
A maior parte do filme, como também do romance, é dedicada a construir a psicologia amargurada de Ender e seu treinamento martirizante, embora tudo soe menos dramático no filme.
Uma das coisa que fazem falta à versão filmada é o aprofundamento da relação entre Ender e seus irmãos, que praticamente não é explorada. As ricas nuances da psicologia de Ender ficam assim esmaecidas e algumas de suas atitudes parecem um tanto injustificadas. O filme também exagera na presença em tela do coronel Graff, para capitalizar a figura de Hans Sol..., quero dizer, Harrison Ford.
Do ponto de vista técnico, o filme parece feito para ser visto em 3D, que não esteve disponível na seção, pois as cenas grandiloquentes e movimentos amplos e angulosos dos personagens sugerem expansão para além da tela. Sem o efeito mágico do 3D, o design e os efeitos especiais, ainda que adequados, parecem previsíveis e já vistos, assim como os cenários, veículos e figurino, geralmente pontos altos nos filmes de ficção científica, que não surpreendem em nenhum momento. Portanto, se possível, dê preferência para ver este filme em 3D.
Um detalhe fundamental no livro, o ansível – comunicador instantâneo para o espaço profundo, que transcende a velocidade da luz –, ideia que Card emprestou dos romances de Ursula K. Le Guin, mal é citado e não repete, no filme, o efeito de maravilhamento científico que permeia o romance e dá sentido a importantes aspectos da trama. Dessa forma, desperdiçam-se os melhores detalhes da história original, em favor da digestividade que os produtores de Hollywood acreditam ser fundamental para o expectador moderno. Para eles, até uma história escrita para adolescentes parece ser difícil de entender.
O grande mérito do filme, portanto, é recriar interesse sobre o romance, atualmente disponível nas livrarias sob o selo Pulsar da Devir Livraria. O jogo do exterminador ganhou até uma nova edição, com imagens do filme em sua capa. Também podem ser encontrados, pela mesma editora, as sequências O orador dos mortos (Speaker for the dead), Xenocídio (Xenocide) e Os filhos da mente (Children of the mind), que têm o interessante detalhe de se passarem numa colônia no planeta Lusitânia, formada por cientistas brasileiros! Isso porque Card conhece muito bem o Brasil, tendo vivido aqui como missionário nos anos 1970. Ele fala português perfeitamente e tem uma grande afeição pelo País, o que, por si só, já torna irresistível a leitura desses livros.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Resenha: A Flauta Condor

Segundo volume da série Os sóis da América, A Flauta Condor dá continuidade às aventuras do menino Pelume em peregrinação pelas terras de uma América mítica em busca da história para chamar o Sol, que pode salvar seu povo do que ele acredita ser a extinção certa.
No primeiro volume, O Nalladigua (também publicado em 2013), Pelume abandona sua terra natal, uma ilha no oceano antártico e, literalmente, voando nas asas do vento – que na sua tradição do povo Do Fogo é um pássaro chamado Furufuhué –, chega às terras meridionais do continente, onde conhece a menina Misqui que o acompanha em sua caminhada para o norte. Depois de enfrentar muitos perigos e tristezas, mas também vitórias, os jovens chegam às cataratas do rio Iguaçu e, de lá, embarcam novamente nas costas de Furufuhué em direção à coluna vertebral da América, a Espinha Branca.
A Flauta Condor inicia com Pelume, Misqui e Nimbó, garoto guarani que se uniu aos peregrinos, voando sobre o coração do continente a bordo de uma canoa equilibrada nas costas do Urubu-Rei, uma das muitas formas que Furufuhué assume entre os povos americanos. Mas, sendo vento, Furufuhué é sensível aos processos climáticos e, quando ele se transforma numa violenta tempestade, tem que deixar os garotos no chão para mantê-los a salvo, e a viagem é interrompida antes que a gigantesca cordilheira seja alcançada: os jovens terão de concluir a jornada a pé.
Caminhando por uma terra árida, exaustos e famintos, os jovens encontram um casebre calcinado pelo sol inclemente da região. Ali encontrar mais dois adolescentes, Taki e Sisa, filhos de nobres incas que até ali foram levados por um servo depois que sua casa foi atacada por revoltosos que mataram seus pais.
Auxiliados pelos espíritos da natureza Pombero e Coquena, os cinco jovens seguem viagem em busca das raízes da cordilheira. Ao atravessarem uma floresta encantada, o galho da Nalladigua – que Pelume carrega desde o início de sua jornada e na qual amarra suas lembranças – começa a revelar seus poderes, que ainda não são entendidos pelo garoto.
Quando, enfim, chegam à cidade inca de Potosi, encontram Uturunku, um antigo amigo da família real, que diz também estar sendo perseguido pelos revoltosos. Ele e seu filho Sonkoy passam a proteger os jovens herdeiros, que precisam escapar dos rebeldes e chegar à Cuzco, onde poderão ser protegidos pelas forças leias do império. Com os soldados em seus calcanhares, Uturunku guia os jovens pelo labirinto de túneis escuros das minas de prata de Potosi. Um dos perseguidores os alcança e, na mortal luta que se segue, Pelume consegue tirar dele um pequeno instrumento, a Flauta Condor, que tem o poder de transportar as pessoas instantaneamente para outros locais. Uma das notas pode levar à Cuzco, mas até que encontrem a nota certa, perigos ainda maiores esperam por Pelume, Misqui, Nimbó, Taki, Sisa, Uturunku e Sonkoy, incluindo a traição de quem menos se espera e o destino trágico para de um dos caminheiros.
Geralmente, as histórias de continuação costumam perder um pouco do fôlego nos volumes intermediários, uma vez que se tratam de "histórias de miolo", que ligam o início, em que os personagens e as situações se apresentam, e a conclusão, no volume final. Mas a experiente escritora Simone Saueressig, autora de livros como A máquina fantabulástica (Scipone) e A estrela de Iemanjá (Cortez), não permitiu que isso acontecesse em A Flauta Condor. A história é movimentada e ainda mais dramática que a do volume inicial, com muitos personagens novos interessantes que serão muito bem-vindos se retornarem à aventura mais adiante. Outras lendas sobre a origem do Sol são relatadas pela autora que vai, assim, construindo um atlas mitológico da América, com histórias colhidas em diversas culturas nativas.
Na resenha ao primeiro volume, citei o fato que numa América pré-colombiana não poderia existir a imagem do cavalo, usada para representar anhangá, uma vez que o animal só veio a ser conhecido por aqui com a chegada das caravelas europeias. Mas a autora contestou essa opinião dizendo que a América de sua história não é a nossa, mas uma outra, de um universo alternativo em que os animais mitológicos realmente existem e a história humana se passou de forma diferente. Portanto, também podem aparecer animais de outras partes do mundo. E, novamente em A Flauta Condor, a autora usa esse recurso ao descrever o guardião do Eldorado, uma enorme espécie de dinossauro que sobrevive nas regiões perdidas da floresta amazônica e é chamado pelos personagens de lagarto-tigre. Como a licença poética de tomar um dinossauro – que não existe em parte alguma – talvez seja ainda mais ousada do que citar um tigre – animal nativo da Ásia que não existe naturalmente na América real – cito aqui o fato só para antecipar ao leitor que na América de Simone Saueressig tudo pode acontecer, inclusive a presença das plantas antropófagas que estrelam o momento mais dramático do volume.
A ilustradora Fabiana Girotto Boff, que fez a capa e ilustrações internas do primeiro volume, retorna em A Flauta Condor, com desenhos mais detalhados e adequados à narrativa. A produção gráfica e editorial é da própria autora, num volume de 152 páginas com capa em cartão plastificado, com orelhas. Um marcador de páginas personalizado acompanha cada exemplar, com um útil glossário de termos incomuns citados na história, o que facilita bastante a busca uma vez que o marcador está sempre à mão. Na página final do volume está anunciado o título de Os sóis da América, Volume 3: O coração de jade, que deve ser lançado em 2014.
Mais informações sobre a saga de Pelume podem ser encontradas no blogue da série, aqui.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Megalon 36

Está disponível aqui, em formato pdf, mais uma edição do histórico fanzine de ficção científica e horror Megalon, desta vez a de número 36, editada por Marcello Simão Branco em junho de 1995. Em suas 38 páginas, o fanzine apresenta ficções de Roberto de Sousa Causo e Miguel Carqueija, um artigo de Braulio Tavares sobre as aventuras de Dick Peter, uma entrevista com o escritor Gerson Lodi-Ribeiro, noticiário da cena do fandom e vários outros artigos tratando da primeira edição da HorrorCon, de histórias alternativas e um artigo meu que, apesar das boas intensões, comete mais enganos do que pretendia contestar. Tenho antecedentes, portanto. A capa traz uma ilustração de José Carlos Neves.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Resenha: Aventura!

A coleção Ficção de Polpa da Não Editora de Porto Alegre, formada por antologias de contos de gênero, tem escolhido um tema específico para cada edição. Os primeiros quatro números atenderam os gêneros terror, ficção científica, fantasia e crime. O quinto é Ficção de Polpa: Aventura!, publicado ainda em 2012 e que me chegou às mãos pela gentileza de Simone Saueressig, autora presente no volume. Contudo, isso faz com que a antologia não tenha um tema específico, uma vez que a aventura pode estar no bojo de qualquer história, independente do gênero. E isso pode ser observado no amplo espectro de gêneros que os autores experimentaram na edição, passando por histórias de crime, ficção científica, fantasia, piratas, guerra e selva. São sete histórias ao todo, cinco delas de autores brasileiros e duas de estrangeiros.
Após uma ligeira introdução, em que o editor Samir Machado de Machado defende uma literatura de emoções fortes que remetam à experiência do desbravamento de espaços desconhecidos, podemos ler "Por favor, não toque nos dinossauros", do gaúcho Bruno Matos, conto de ficção científica no qual um paleontólogo brasileiro é convidado a participar de uma iniciativa científica numa ilha secreta, não por acaso o mesmo lugar em que foi filmado o longa metragem Jurassic Park, apresentado ao mundo como se ficção fosse, mas onde dinossauros vivem de verdade. A história tem uma longa introdução em que o protagonista é cooptado para aceitar o trabalho mas, quando a ação se desloca para a ilha, embala um ritmo mais veloz e fantasioso.
O segundo conto é "Melhor servido frio", de Carlos Orsi, autor paulista conhecido entre os leitores de ficção científica e terror que, nesta história, aproveita a experiência que teve ao participar de uma excursão à Antártida para contar sobre um crime de vingança motivado por um triângulo amoroso e pela competitividade profissional entre pesquisadores residentes naquele continente.
A terceira história é "A igreja submersa", de Simone Saueressig, experiente autora gaúcha muito ativa no ambiente da fc&f. Ela também conta a história de um crime, toda ela passada no campanário de uma velha igreja de um vilarejo inundado pelas águas de uma barragem. Quando chega ao local um fotógrafo inspirado pela memória de sua falecida esposa – uma historiadora que defendia o valor das pinturas da catedral –, é rendido por um grupo de criminosos que pretendem recuperar um antigo tesouro submerso nas profundezas do templo arruinado.
A seguir temos "A joia de Évora", do norte-americano radicado em Porto Alegre Christopher Kastensmidt, fantasia passada no período colonial brasileiro. Conta sobre dois homens manipulados por uma mulher que, juntos, resgatam um antigo tesouro pirata de uma caverna, mas um deles é traído e atirado em um precipício. Contudo, o homem não morre da queda e, enquanto agoniza de fome e sede na escuridão, é encontrado por um índio velho que trata dele e, aos poucos, restaura sua saúde, não antes de obrigá-lo a perdoar seus algozes. Mas ele ganha mais que sua integridade no processo. Senhor de habilidades sobrenaturais, o homem vai atrás de seus antigos comparsas para retomar uma parte muito especial do tesouro.
"Virtude selvagem", do gaúcho Julio Ricardo da Rosa, inicia como uma história de piratas, com os marujos sendo severamente exigidos pelo seu impiedoso capitão para transportar e enterrar um grande tesouro em meio à floresta tropical. Feito o serviço, o capitão decide executar seus homens para manter o segredo a salvo, mas um deles reage, mata o corsário e foge pela floresta desconhecida, tentando retornar ao seu amado oceano e reconstruir sua vida.
A melhor história do volume é "Seis quilômetros", do também gaúcho Carlos André Moreira, tensa e surpreendente narrativa sobre os pracinhas brasileiros na Itália, numa missão perigosa já no final da guerra, depois da tomada de Monte Castelo, quando os alemães preparavam uma contra ofensiva que poderia mudar os rumos da guerra. As descrições são vivazes e convincentes, recriando com competência o clima limítrofe dos combates daquele conflito.
Fechando a antologia, temos "O Aranha", do norte americano Arthur Olney Friel (1855-1959), autor pulp que desenvolveu uma obra vinculada à vida selvagem. A história conta sobre os planos sinistros de um alemão, chamado de Aranha por causa de seu comportamento semelhante ao referido animal. Acostumado a obter o que quer a qualquer custo, Aranha é um homem violento, que acabou na selva amazônica fugindo de crimes anteriores, e sua índole perversa não tarda a emergir. Perseguido por seus ex-colegas de trabalho, Aranha vai lançar mão de toda sua maligna habilidade para obter o que ainda deseja.
O volume também apresenta um making off da capa, que tem arte de Jader Corrêa e Matias Strebb, além de uma seleta de antigos "reclames" de jornal entremeados aos contos que, somado à apresentação gráfica que simula o desgaste das páginas, aos textos sempre apresentados em duas colunas e às ilustrações que abrem cada conto – por Jéssica Albuquerque, Rodjer Goulart, Romano Corá, Elvis Moura, Fernando Gil e do próprio editor –, simula um divertido clima pulp que só não é mais autêntico porque a literatura brasileira nunca o teve de fato.
Ficção de Polpa: Aventura! é uma leitura agradável e interessante, indicada para ventilar a mente que está cansada de mesmices.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Resenha: A procura de Chã dos Esquecidos

Há um lugar, em meio a floresta brasileira do inexplorado Planalto Central, em que os homens bons e tementes a Deus podem viver em paz e segurança, sem dor ou doenças, e em abundância de alimentos da melhor qualidade. Esse paraíso terrestre, não o Édem mas muito parecido, é o Chã dos Esquecidos. Para lá, o beato Boaventura pretendia conduzir uma peregrinação, que anunciou ao povo mais pobre da Capitania da Paraíba do Norte, que se encontrava assolada pela seca, pela fome e pela violência nos idos de 1791. Os sermões bem feitos mais convenceram que converteram a plebe inculta que ansiava por uma alternativa à vida miserável que levava. Mas a pregação também despertou a ira do governador do lugar, o fidalgo português Jerônimo José de Melo e Castro, que logo solicitou ao governador geral da Capitania de Pernambuco, José Cesar de Menezes, a qual era subordinado, providências para controlar a população à beira de uma convulsão, bem como prender o beato Boaventura, para que parasse de fomentar ideias perigosas e subversivas entre ela. Mas, devido às rusgas pessoais entre os dois políticos, as providências não são tomadas e, depois que a violência explode nas ruas, tem início a peregrinação floresta adentro.
Esta é a história que nos conta o escritor Carmelo Ribeiro em seu romance A procura de Chã dos Esquecidos, publicado em 2013 pela Editora Schoba, cuja publicação anunciei aqui há alguns meses.
O autor dispõe de bons recursos técnicos para convencer o leitor da plausibilidade de sua história, com um estilo rebuscado que remete ao período histórico focalizado e uma estrutura formal criativa dividida em três partes distintas, cada qual com um estilo diferente. Na primeira parte, chamada "Os bem aventurados", a história é contada através da correspondência oficial entre os dois governadores, em que se percebe a profunda animosidade que existe entre eles. A segunda parte, chamada "Os sermões", é formada pelos sete últimos discursos exortativos de Boaventura, que antecederam a violência final e a partida dos peregrinos. A terceira parte, chamada "O caminho", é um diário de viagem escrito por um dos principais seguidores do beato, o comerciante Afonso de Vila Nova Portugal, conhecido como Afonso-sem-razão.
A narrativa não chega a ser fantástica, uma vez que não há um elemento sobrenatural efetivo em ação, mas o clima geral, composto pela tensão entre a fé e a desesperança, faz a história caminhar numa zona mítica crepuscular, tal como em João Guimarães Rosa, que leva a aceitar sua classificação pelo menos no ambiente do realismo mágico, uma vez que não se trata de uma história real.
Este é o terceiro livro de Carmelo Ribeiro que, em 2011, publicou a coletânea poética A fúria e a mágoa (Ed. Livronovo) e o romance Paxolino dos adoradores de Cristo nas terras da cafraria, também pela Editora Schoba. Antes disso, Ribeiro, que é professor de História e Geografia, publicou contos nas antologias Moedas para um barqueiro (2010, Andross), Bandeira negra (2010, Multifoco) e Espectra (2011, Literata).
A procura de Chã dos Esquecidos tem 176 páginas e a produção gráfica, incluindo da capa, é creditada a Camila Gonçalves.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Renato Canini (1935-2013)

Um dos mais queridos cartunistas brasileiros, Renato Vinícius Canini nasceu em 22 de fevereiro de 1935, na cidade de Paraí, no Rio Grande do Sul. Desde jovem, interessou-se pela arte do traço e, aos 21 anos, já trabalhava como ilustrador na revista infantil Cacique, publicada pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado. Ainda nos anos 1960, participou ativamente da lendária CETPA - Cooperativa Editora de Trabalho de Porto Alegre, iniciativa que tinha como meta a nacionalização do quadrinho brasileiro e contou com o apoio do então Governador Leonel Brizola. Com roteiros de José Geraldo Barreto, Canini desenhava Zé Candango, um cangaceiro que lutava contras os super-heróis estrangeiros.
Canini mudou-se para São Paulo em 1967, para trabalhar na revista infantil Bem-Te-Vi, publicada pela Igreja Metodista. Dois anos depois foi contratado pelo estúdio de quadrinhos da Editora Abril, para ilustrar a revista Recreio. Logo passou a trabalhar com Zé Carioca, personagem popular criado em 1942 por Walt Disney. Aproveitando-se do controle frouxo que a Disney então mantinha sobre os quadrinhos de sua franquia feitos no País, Canini incorporou diversos aspectos da Cidade Maravilhosa às histórias, bem como trejeitos brasileiros ao personagem. Foram cerca de 135 histórias, produzidas entre 1971 e 1977, amplamente apreciadas pelos leitores brasileiros. Mas esse grande sucesso acabou atraindo a atenção da matriz americana que desaprovou o trabalho, considerando-o demasiado distante do seu padrão original. Por muito tempo, o trabalho de Canini em Zé Carioca ficou proibido de ser republicado, situação que só mudou em 2005, quando a própria Editora Abril homenageou o artista com um volume da coleção Mestres Disney, equiparando-o assim aos ilustradores Don Rosa, Cavazzano, Gottfredson e Romano Scarpa, vistos nos outros volumes da mesma coleção.
Em 1974, Canini criou para a revista Crás a sátira de faroeste "Koka Kid", rebatizada depois pelo editor como Kactus Kid. Inspirado na fisionomia de Kirk Douglas, Kactus Kid era um agente funerário que, quando necessário, transforma-se num pistoleiro elegante e boa-pinta, não sem alguma dificuldade, uma vez que tinha que passar pela picada dolorosa de uma agulha para fazer o indefectível furinho no queixo.
Outra criação importante de Canini é o psicólogo Dr. Fraud que, nos anos 1970, chegou a aparecer em várias edições da revista Patota, da Editora Artenova, e publicado em álbum em 1991 pela editora Sagra-DC Luzatto, sempre envolvido com problemas psicológicos dos mais famosos personagens dos quadrinhos.
Em 1978, criou o indiozinho Tibica para participar de projeto de tiras da Editora Abril, que não foi adiante. O personagem seria enfim publicado em 2010 no álbum Tibica: O defensor da ecologia, pela Editora Formato.
Canini também teve trabalhos publicados nos jornais Correio do Povo, Diário de Notícias, O Pasquim e nas revistas Mad e Pancada, entre outras publicações.
Também são seus os livros infantis Cadê a graça que tava aqui? (1983, Mercado Aberto), Um redondo pode ser quadrado? (2007, Formato) e O cigarro e o formigo (2010, Formato). Em 2012, publicou seu último trabalho, o álbum Pago pra ver (IEL/CORAG), reunindo 250 ilustrações sobre o Rio Grande do Sul e os pampas, realizadas ao longo dos últimos trinta anos.
Casado com a também desenhista Maria de Lourdes, Canini sofreu um mal súbito decorrente de um problema cardíaco e veio a falecer no último dia 30 de outubro, aos 77 anos, sendo sepultado no Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula, em Pelotas, onde morava.
Entre as muitas homenagens que recebeu ainda em vida, Canini foi agraciado em 2003 com o título de "Grande Mestre" pelo Prêmio HQMix.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

FC, no palco

Até o dia 15 de dezembro está em cartaz, no Complexo Cultural Funarte São Paulo, a peça Antígona 2084, releitura futurista do clássico de Sófocles no qual a filha de Édipo busca dar um sepultamento digno ao corpo do irmão desaparecido.
O texto é de José Rubens Siqueira e tem, no elenco, Lenita Ponce, Affonso Lobo, Daniel Granieri, Joy Japi, Paulo Carvalho, Lua Tatit, Ailton Rosa, Paulo Britto e Layna Bueno, sob a direção de João Grembecki.
O espetáculo faz parte do projeto "Antígona – repercussão social de uma trajetória artística", parceria entre a Cia Stromboli e o Teatro Cru. A bilheteria abre uma hora antes do espetáculo, que tem sessões às sextas e sábados às 21 horas, e domingos às 20 horas, com recomendação etária de 16 anos. Uma ótima oportunidade de ver ficção científica no teatro, o que é bastante raro.
O Complexo Cultural Funarte São Paulo fica na Alameda Nothmann, 1058, em São Paulo. Mais informações pelo telefone (11) 3662 5177.