terça-feira, 8 de outubro de 2013

Os números do Argos 2012

Há algumas semanas, mais exatamente durante o VII Fantasticon ocorrido em setembro último, foram anunciados os vencedores do Prêmio Argos, um dos poucos prêmio dedicados a observar a literatura fantástica no Brasil (o outro é o Codex de Ouro). Como já disse aqui, os vencedores foram Kaori e o samurai sem braço, de Giulia Moon, na categoria Romance, e "No vácuo você pode ouvir o espaço gritar", de Carlos Orsi, na categoria Conto, sendo ainda entregue um prêmio honorário ao escritor Braulio Tavares, pelo conjunto de sua obra.
O Prêmio Argos é uma promoção do Clube dos leitores de Ficção Científica. Teve algumas edições no início do século, parou por algum tempo e retornou em 2012, sendo esta a sua segunda premiação depois do interregno. A apuração está fundamentada na consulta aos membros do Clube, por voto direto em escrutínio único. Embora os vencedores sejam conhecidos desde então, é divulgada uma lista com os cinco finalistas de cada categoria, sendo os vencedores revelados na cerimônia de entrega dos troféus, de forma a criar alguma expectativa, aos moldes da entrega do Oscar.
Uma coisa que me incomodava no Argos era a falta da divulgação dos números finais da pesquisa que, na minha opinião, têm significado maior até que os nomes dos vencedores. Conversando com o presidente do Clube, atualmente o escritor Clinton Davisson, finalmente tive aceso às planilhas da premiação de 2012, que quase ninguém tinha visto até agora, arquivo este que pode ser consultado e baixado aqui.
As planilhas permitem perceber o cuidado dos organizadores no processo. São duas: uma mostra a classificação completa das duas categorias, com definição dos primeiros e segundo lugares (cada votante indica dois títulos por categoria, na ordem), o total de votos recebidos e a pontuação de cada título. A outra mostra a situação de cada voto, sem informar o nome do votante. Todos os votos estão lá, válidos ou não, especificando o motivo no caso de invalidação. Na categoria Contos, a planilha revela apenas os títulos votados em primeiro lugar, sem o mesmo detalhamento dado às indicações dos romances, muito mais completo.
O vencedor de 2012 na categoria Romance foi A guardiã da memória, de Gerson Lodi-Ribeiro, de longe o título mais votado, com 8 votos em primeiro lugar e 2 em segundo, num total de 18 pontos (são computados 2 pontos para cada primeiro lugar e 1 para cada segundo). Em segundo lugar ficou Os filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida, de Eduardo Spohr (5 pontos, dois primeiros lugares). Em terceiro, A ilha, de Flávio Carneiro (4 pontos, dois primeiros lugares), em quatro, B9 de Simone Saueressig (2 pontos, 1 primeiro lugar) e Sonho, sombras e super-heróis, de Luiz Brás, na quinta colocação (com 2 segundo lugares). Ainda foram citados outros dez títulos, lembrados apenas uma única vez, alguns em primeiro, outros em segundo lugar. Fica patente aqui um critério discutível, pois o Argos considera que dois segundos lugares valem mais que um primeiro, o que a mim não parece muito justo, mas vá lá.
Entre os finalistas, nomes conhecidos do fandom, a exceção de Flávio Carneiro, lembrado por dois votantes. A maior parte dos citados (não vou considerar os votos inválidos) são trabalhos de fantasia (7), com o terror e a fc empatados na segunda posição (4 cada um), embora dentre os finalistas, 3 sejam de fc, incluindo o vencedor, o que é de se esperar sendo a pesquisa feita dentro de um grupo de fãs desse gênero. Uma das surpresas foi ver Kaori: Coração de vampira, de Giulia Moon, segundo volume da série vencedora em 2013, apenas na nona colocação.
Na categoria Conto, venceu "Pendão da esperança", de Flávio Medeiros (10 pontos, 5 primeiros lugares), seguido de "Auto de extermínio", de Cirilo Lemos (6 pontos, 2 primeiros lugares), "Seu momento de glória", de Marcelo Jacinto Ribeiro (6 pontos, 2 primeiros lugares), "Morgana Memphis contra a Irmandade Gravibramânica", de Alliah (5 pontos, 2 primeiros lugares) e "A esfera dourada", de Clinton Davisson (5 pontos, 2 primeiros lugares). Percebe-se aqui outro ponto polêmico, uma vez que foram validados os votos dados ao trabalho de um dos organizadores da promoção, além de presidente da agremiação promotora, o que, na maior parte das dinâmicas desse tipo, não é considerado ético, visto que isso pode incentivar a manipulação dos votos.
Outros 27 trabalhos foram lembrados e a fc predominou com pelo menos metade dos títulos citados, reflexo de algumas antologias do gênero muito bem avaliadas pelos fãs.
De um total de 43 votantes registrados nas duas categorias (incluindo os testes), 20 tiveram pelo menos uma de suas indicações a romance validadas. Quanto aos contos, foram 32 votos válidos para o primeiro lugar, sinal que os votantes estão muito mais bem informados com relação a ficção curta.
Davisson confidenciou-me que, em 2013, o universo de votantes foi consideravelmente ampliado, mas não precisou a quantidade exata, adiantando que as planilhas de 2013 devem ser divulgadas ainda este ano. Quando isso acontecer, voltarei ao assunto aqui.

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