domingo, 10 de abril de 2011

Duplo Fantasia Heróica

Uma de minhas mais recentes leituras foi o volume Duplo Fantasia Heróica da Coleção Asas do Vento, da Devir Livraria. Num verdadeiro formato de bolso, o volume traz as noveletas "O encontro fortuito de Gerad van Oost e Oludara" do americano radicado no Brasil Christopher Kastensmidt e " A travessia", de Roberto de Sousa Causo, que tive o prazer de publicar na Nova Coleção Fantástica.
A novela de Kastensmidt, que está indicada para o Nebula deste ano, conta a história de um aventureiro holandês nos tempos do Brasil colônia, prestes a ser expulso de Salvador por vadiagem, que se encontra com um negro escravo e decide libertá-lo. Sem dinheiro para pagar o alto valor do prisioneiro, ele vai apelar para os seres mágicos da floresta.
A história soa simples demais para os leitores brasileiros, já acostumados ao panteão indígena que volta e meia aparece em romances, quadrinhos, novelas e peças de teatro. Monteiro Lobato foi mais longe com o Saci Pererê e Guimarães Rosa certamente assombraria os leitores estrangeiros com o maravilhoso "Meu tio o Iuauretê". Mas acredito que Kastensmidt consegue ser suficientemente exótico para o gosto estrangeiro.
O interessante é que o protagonista não poderia ser mais politicamente incorreto, pois pretende caçar as criaturas lendárias do Brasil só por farra. Creio que um brasileiro nunca escreveria uma história assim.
Apesar de já ter lido umas dez vezes, reli novamente "A travessia", de Causo, pois o autor diz na apresentação do texto que fez mudanças nele depois que o publiquei em 2009. A história é sequência imediata do romance A sombra dos homens (Devir, 2005) e mostra como pode ser difícil para o pajé Tajarê e sua companheira islandesa, a bruxa Sjala, voltarem para casa depois de arrazar a aldeia das amazonas.
Gosto da linguagem "indígena" que o autor inventou para Tajarê, que contrasta fortemente com o texto de Kastensmidt. Só me incomoda que, apesar de toda a iniciativa e poder, Tajarê não parece ser senhor de si. Ele apenas reage, nunca assumindo o controle da própria vida. Deve ser o karma do personagem e certamente faz parte do projeto do autor para ele.
A Coleção Asas do Vento é uma grande proposta da Devir Livraria e vale muito a pena. O livro pode ser adquirido no saite da Devir, aqui.

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