sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Distrito 9


Não tenho sido muito frequente nos cinemas, então raramente me abalo a enfrentar o ritual que um espetáculo cinematográfico exige, mesmo quando um filme parece merecer. Mas não resisti aos apelos de Distrito 9 (District 9), produção de Peter Jackson, dirigida pelo sul africano Neill Blomkamp a partir de um curta-metragem do diretor. Isso porque o contexto me parecia totalmente inusitado - como deveriam ser sempre os filme de FC.
Uma espaçonave monstruosa surge do nada sobre a cidade de Joanesburgo e durante três meses nada acontece. Mortificados de curiosidade, equipes de resgate invadem a espaçonave perfurando seu casco e lá encontram uma grande contingente de alienígenas humanóides em situação desesperadora. Debilitados e doentes, eles são levados para o solo e abrigados à sombra do gigantesco disco voador, isolados do contato com a população humana no que ficou conhecido como Distrito 9. Aos poucos, a área transforma-se num gueto, degenerando num tipo de favela - na verdade, mais um lixão.
Toda esta apresentação é contada em flashback, vinte anos depois, através trechos de depoimentos de técnicos e reportagens da época, motivados por novos desdobramentos da história.
Vinte anos depois do desembarque, a empresa de tecnologia MNU, responsável pela administração do "problema alienígena", pretende transferir para outra região - o Distrito 10 - toda a população alienígena, popularmente chamada de "camarões", com cerca de 1 milhão de indivíduos. Mas ao longo do tempo, os alienígenas apegaram-se ao local e não parecem dispostos a deixá-lo sem alguma resistência.

Uma força-tarefa militar é montada para fazer cumprir a decisão e Wikus Van De Merwe, um tecnocrata com panca de laranja, é nomeado para supervisonar as operações. Mas ele sofre um acidente e começa a apresentar mutações estranhas que despertam o interesse da MNU. Explica-se: a tecnologia alienígena não funciona em mão humanas e talvez as mutações que atacaram o infeliz tecnocrata possam revelar um segredo muito lucrativo.
Levado a força para o centro tecnológico da MNU, Wikus foge e inicia-se uma violenta caçada humana pelas veredas pútridas do Distrito 9. As coisas pioram a cada minuto, visto que a mutação é progressiva, e complicam-se ainda mais quando a máfia nigeriana, que negocia com o alienígenas trocando comida de gato por armas, é envolvida no conflito.
A moral mais superficial da história é, obviamente, a intolerância. Imagine só, se um tema como esse é o mais superficial até onde ela vai. Outro ponto alto da produção é a fotografia, que tem uma palheta de cores incomum, muito afeita a que estamos acostumados a ver no cinema brasileiro, pelo qual Blomkamp confessou ter sido influenciado.
Há muitos filmes e romances com os quais Distrito 9 dialoga. Os que mais imediatamente vêm a minha memória são Inimigo meu (o filme), Tropas estelares (o livro) e Alien nation (a série de TV). Mas, no fim das contas, Distrito 9 é de fato uma grande releitura do clássico da literatura A metamorfose, de Franz Kafka. A cena final, em que o alinígena monta delicadas flores coloridas a partir do lixo é de uma poética emocionante e vale, por si só, o filme inteiro.
Mas nem tudo são flores em Distrito 9. Uma questão em especial soou muito estranha: de onde diabos os alienígenas tiravam tantas armas para trocar com os nigerianos? Eles não tinham acesso a espaçonave e, quando do resgate, foram todos desembarcados com helicópteros. De repente, aparecem até com um robô enorme - que inclusive tem uma participação importante na trama. Parece que todo o bom filme tem que ter um calcanhar de Aquiles.
De qualquer forma, Distrito 9 é certamente um dos melhores filmes de FC que eu assisti nos últimos anos.

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