terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Xochiquetzal

Está divulgado, no site da editora Draco, Xochiquetzal, uma princesa asteca entre os incas, primeiro romance do veterano contista carioca Gerson Lodi-Ribeiro, um dos sobreviventes dos grupos de autores-fãs iniciados nas artes literárias no boletim do extinto CFCA – Clube de Ficção Científica Antares, de Porto Alegre, no início dos anos 1980. Então, Lodi-Ribeiro investia na ficção científica de cunho tecnológico mas, com o passar dos anos, migrou cada vez mais para os exercícios de história alternativa, no qual se especializou e é hoje o autor mais bem preparado para escrever esse tipo de histórias no país.
Sua obra prima, a noveleta "A ética da traição", publicada ainda no século passado, está entre os melhores trabalhos da ficção fantástica brasileira. Ela abriu uma nova frente na ficção brasileira e na obra do autor, que passou a usar cada vez mais os conhecimentos de náutica militar que domina muito bem. Nesse modelo, Lodi-Ribeiro tem realizado seus melhores trabalhos recentes, boa parte deles ambientados entre os séculos XVI e XIX, com grandes caravelas na imensidão do mar violento e desconhecido - imagem também usada por dez entre dez ensaistas de ficção científica para ilustrar o maravilhamento da aventura espacial.
Xochiquetzal é princesa de uma nação asteca que, no ambiente construído para o romance, não foi exterminada pelos invasores espanhóis. Ela narra, em forma de diário, suas experiências na companhia do marido, o navegante e conquistador Vasco da Gama, que roda o mundo a serviço de um poderoso império português.
O mundo de Xochiquetzal apareceu pela primeira vez em 1998, num conto da antologia Outras Copas, Outros Mundos, publicada pela Editora Ano-Luz – da qual o autor era então participante societário – e voltou a comparecer em outras antologias brasileiras e estrangeiras. O texto é reunião de parte desse material, revisto a ampliado, de forma que resulta num romance.
Apesar de toda a fantasia que define a história de Xochiquetzal, a mais pitoresca está fora do livro. Durante muitos anos, a comunidade de leitores e fãs de FC&F brasileira e estrangeira acreditou que as história da princesa asteca eram escritas pela autora carioca Carla Cristina Pereira, festejada pela comunidade brasileira desde quando se tornou "a primeira brasileira" indicada ao Sidewise, prêmio norteamericano exclusivo para trabalhos de história alternativa. Mesmo os editores da Ano-Luz, sócios de Lodi-Ribeiro, acreditavam que Carla Cristina Pereira existisse de fato. Até o lançamento deste romance, o autor nunca havia assumido que Carla Cristina era um de seus heteronômios (o autor assinou outros trabalhos com pseudônimos, embora não tenha feito o mesmo segredo).
Com uma década de mistério finalmente revelada, alguns estudos sobre FC brasileira publicada durante o período terão de ser revistos, já que essa grande representante feminina da ficção científica nacional era, de fato, um homem.
Não chegou a surpreender, entretanto. Há anos sabia-se que Carla Cristina Pereira era uma personalidade fictícia, já que ela não mostrava qualquer existência para além dos escritos a ela creditados. Além disso, Lodi-Ribeiro era o único que dizia conhecê-la pessoalmente e, para olhos atentos, não era difícil perceber que o estilo narrativo de Carla Cristina Pereira, bem como suas virtudes e vícios literários, eram idênticos aos de Lodi-Ribeiro.
Superada a fase de segredos, Gerson Lodi-Ribeiro pode afinal usufruir do reconhecimento que Carla Cristina Pereira conquistou em seu lugar. Mas a ficção científica brasileira fica, no todo, um pouco decepcionada por perder uma de suas mais expressivas escritoras. Ainda que fosse um segredo de polichinelo, foi bom enquanto durou.
Lodi-Ribeiro declarou, em recente entrevista ao site Cranik, que o romance deve ser colocado à venda ainda em 2009, mas o lançamento oficial deve acontecer somente em março de 2010.

2 comentários:

  1. Obrigado pela crítica abalizada, Cesar.

    Quanto ao segredo do heterônimo "Carla Cristina Pereira", tenho forte certeza de que, no fundo, você já desconfiava da verdade.

    Abraços,
    Gerson.

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  2. Bom conhecer essa história pregressa do Gerson que eu já admirava como escritor e de quem agora gosto como amigo!

    E estou antecipando com prazer a leitura de Xochiquetzal...!

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