terça-feira, 26 de maio de 2009

Futuro Proibido


Enfim, preenchendo um enorme lapso nas minhas leituras, conclui a antologia de ficção científica Futuro Proibido [Semiotext(e)] organizada por Rudy Rucker, Robert Anton Wilson e Peter Lamborn Wilson, publicada no Brasil em 2003 pela editora Conrad. A ideia dos organizadores era reunir textos ousados e perturbadores que eventualmente tivessem sido censurados em suas edições originais.
A editora brasileira comenta, na apresentação assinada por Marietta Baderna (!) que o livro seria publicado no Brasil em duas partes, anunciando para o segundo volume os trabalhos de Philip José Farmer e Robert Sheckley entre outros, no entanto publicou só o primeiro volume. Devido a essa "oportuna" decisão, ficamos com apenas parte desse curioso projeto.
Nesta edição, destacam-se os nomes de Bruce Sterling, Colin Wilson, Willian Gibson, Rudy Rucker e J. G. Ballard. A maior parte dos contos não foi realmente censurada. Publicados em fanzines, são textos algo libertinos para o estado da arte vigente a época em que foram escritos, mas lidos hoje soam praticamente normais. De fato, há trabalhos mais ousados entre os modernos escritores brasileiros de FC&F, mas é possível que muitos deles tenham sido influenciados pela leitura deste mesmo volume.
No aspecto erótico, os contos mais expressivos são "Êxtase no espaço", de Rudy Rucker - que não termina lá muito bem — e "O pênis Frankenstein", de Ernest Hogan — o mais entusiasmante do conjunto.
"Vemos as coisas de modo diferente", de Bruce Sterling e "Relatório sobre uma estação espacial não identificada", de Ballard, são textos bastante profissionais. O de Sterling lida com um tema algo sensível para os americanos, que é a presença em destaque de personagens árabes, mas ambos são trabalhos conservadores no estilo, ainda que avançados nas ideias.
A maior parte dos 16 contos publicados se destaca mais pela ousadia formal, pós-moderna, do que por seus conteúdos. O trabalho de Colin Wilson sequer chega a ser um conto, está mais para um artigo. Dentre esses textos alternativos, impressiona "Visite Port Watson!", de autor anônimo, que desenvolve-se em forma de um guia de viagem à uma ilha no meio do Pacífico que vai soar muito familiar a quem acompanha o seriado Lost.
Completa a edição alguns portfólios de artistas plásticos que perderam muito de seu possível apelo por serem publicados em uma apresentação pobre, sem cores e com definição ruim. Lamento, rapazes, não me entusiasmaram nem um pouquinho.
Por ser um livro pela metade, a sensação de incompletude é muito frustrante. Imaginar o que Farmer e Sheckley fizeram e que nunca saberemos é de deixar maluco. É difícil dar uma avaliação final realmente isenta, mas a sensação é que a ideia era melhor que o resultado. Poucos dos trabalhos publicados realmente cumprem a promessa do futuro proibido prometido pelo título nacional, mas vale a pena conhecer o que estes autores pensam ser uma FC imaginativa aos olhos do século XXI. Pelo menos a metade do livro é bastante inspiradora, o que é muito mais do que eu geralmente espero das antologias em geral.

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